Solano Trindade nasceu em Recife no ano de 1908. Desde a infância teve muito contato com o folclore, as danças, a religião e a resistência afro-descendente. Foi poeta, pintor, folclorista, ator, teatrólogo e cineasta. Liberdade é um tema recorrente na sua obra, principalmente nos poemas que abordam a vida do negro e sua luta contra escravidão, contra a proibição do candomblé no inicio da colonização e a cultura do Maracatu. Um desses poemas é “Deformação”: Procurei no terreiro/ os santos d’África/ E não encontrei,/ Só vi santos brancos/ Me admirei// Que fizeste dos teus santos/ Dos teus santos pretinhos?/ Ao negro perguntei.// Ele me respondeu:/ Meus pretinhos se acabaram,/ Agora,/ Oxum, Yemanjá, Ogum,/ É São Jorge,/ São João/ E Nossa Senhora da Conceição.// Basta Negro!/ Basta de deformação!//
Seu desejo de igualdade se reflete em um título, O Poeta Negro. Além disso, Solano abordava temas de diversos tipos, desde as recordações da infância, à velhice. A vida como um todo retratada ao mesmo tempo de maneira singela e colossal. Representada como Luta em seus versos, já que fora também trabalhador e estudante. Militante ativista contra o racismo, em 1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-brasileiro. Publicou seu primeiro livro chamado Poemas d’uma vida simples em 1944 e em 1950 fundou o Teatro Popular Brasileiro, com Margarida Trindade e Edison Carneiro. Pela união e contra a exploração do Estado, publicava poemas como “O drama do Circo”:
José um grande Bailarino é aplaudido pela multidão
Ele faz voltas coreográficas pelo circo
De repente o bailarino para
e diz: Vão para o inferno!
A multidão se enfurece
apupa o artista
José sorri e fala
– Vos enfureceis por tão pouco
e não protestais
contra os que vos exploram
A multidão recua e cala.
José Continua:
Despertai Multidão Inconsciente
Despertai Multidão Sentimental
Não percebeis a hora da liberdade?
A multidão se entreolha
– De que fala ele?
– Que hora é essa?
– Por que não baila?
Uma mulher grávida
Entra no circo
Gritando:
Viva a Vida!
José baila com a mulher
A multidão vibra de entusiasmo.
Todas essas causas alertam e despertam o leitor. Em “Canto dos Palmares” vemos versos como: “Eu canto aos Palmares/ odiando opressores/ de todos os povos/ de todas as raças/ de mão fechada/ contra todas as tiranias!”
Foi com essa militância pela liberdade, pela comunhão e pelo amor, que Solano Trindade deixou o mundo em 1974, recitando a ultima estrofe de seu ultimo poema “Interrogação”: No dia em que eu deixar de ser eu/ No dia em que eu perder a consciência/ Do mundo que idealizei…/ Neste dia…/ Eu sorrirei sem saber do que sorrio.
O documentário “O legado de Solano Trindade” resume a vida deste poeta, ator, teatrólogo e folclorista, considerado por Carlos Drummond de Andrade como o maior poeta negro do Brasil.