Por Licio Gomez
Eu não vim falar de fama. Não sou famoso. Mas tem gente que diz que sou famoso. E provavelmente você não me conhece. Mas o que seria fama, sucesso?
São iguais?
Mas o que vim falar pra você e com você não está ligado a isso e ao mesmo tempo está…
Que confusão…
Há muitos anos faço música, convivendo com outros músicos, produtores. Estive em bandas de vários subgêneros do Rock e voltei a uma paixão antiga na qual eu flertava numa das bandas que estive, que é o Rap.
E acompanhando questionamentos de vários rappers, produtores e beatmakers, sempre vejo, em algum momento, a questão sobre o alcance, aceitação e até mesmo divulgação do Rap (e acho que em certos pontos, pode se enquadrar em outros gêneros musicais marginalizados), no restante do Brasil e mais especificamente, no eixo Rio-São Paulo, que seria o mais importante e de maior número de consumidores desse gênero. Mesmo com divergência de quem lê isso, a massiva mídia especializada e grandes eventos voltados para esse gênero, além de um circuito de shows de pequeno e médio porte, autossustentáveis, na maioria das vezes (esse último foi afetado pela pandemia mas faz parte dos pilares que levanto), ocorre em sua maior parte, nesse eixo.
A internet, ao mesmo tempo que estreita a relação do artista com o público, tem agentes que garantem o “bairrismo” continuado, entregando uma falsa diversidade, pontuando apenas artistas que “furam essa bolha” à força, ajudado por uma parcela do público que faz uma espécie de levante paralelo da carreira de determinados artistas e tornam necessárias as visibilidades desses artistas, para não soarem parciais ou nulos de curiosidade jornalística. É claro que nem todas as mídias se encaixam na cegueira proposital. Senão, você não estaria lendo isso e agradeço em nome de muitos, ainda existirem pessoas que realmente apresentam a vocês, novas sonoridades e artistas, para que vocês escolham ouvirem ou não. Vocês.
Vamos voltar à música que trouxe essa discussão de volta, que foi a “Sulicídio”, que deixando de lado algumas rimas que não degradam em forma de lírica só os MC’s citados direta ou indiretamente na música, mas também os ouvintes que manifestaram repulsa por certas palavras e que os MC’s responsáveis pela música, pediram desculpas ou diminuíram a força das palavras, em entrevistas posteriores, que foi a música que revolucionou a visão do Eixo para com os artistas fora do Eixo. Mas onde isso mudou o intercâmbio de artistas de Rap ou Trap ou qualquer outro subgênero, de outras regiões ou estados com artistas do Eixo,?
Em Pernambuco, um (tá bom, dois), tiveram uma janela de aparição. Bahia temos dois.
Alguns artistas do Amazônia e do Ceará não dependeram disso. Se encaixam naquilo que falei antes: Forçando a aparição, com méritos e talentos devidos, sejam eles de marketing ou musical, atingiram o começo de suas metas como artistas procurando o âmbito nacional.
Não me alongo para mencionar mais estados, para não desmerecer talentos e situações que ainda não conheço.
MC’s de batalha que migraram para o Eixo em busca de atenção por causa do fenômeno do sucesso das “Batalhas de MC’s”. Um meio de existir até um momento de lançar uma música inédita ou simplesmente de viver do circuito de batalhas, pois em seus estados não conseguem sobreviver disso. Temos que levar em conta que estou falando da mídia extra especializado, quando falo dos MC’s, produtores, beatmakers.
O artista que conhecemos nem sempre tem relevância de mídia que achamos que tem. O importante é que temos um paradoxo: Ao mesmo tempo que achamos que houve uma abertura aos outros estados pelo Eixo, vemos esse mesmo Eixo limitando essa abertura, para que a hegemonia dos artistas dele ou adotados por ele se mantenha, empurrando a culpa para esse núcleo não se expandir, para a falácia da meritocracia. Quantas “disses” serão necessárias pra furar barreiras? Quem não faz parte do eixo será obrigado pra sempre a passar uma imagem de invejoso ou biscoteiro, por tentar chamar atenção dessa maneira?
Poucos artistas do Eixo se posicionam e agem contra isso. E lembrem que também temos os adotados pelo Eixo, que se omitem sobre isso.
A resposta que teríamos para evitar e igualar cenas locais e regionais fora do Eixo, seria se tornar independente e autossustentável, num momento em que não temos força ou apoio massivo para isso. Mas como vão nos ver se não podemos sermos vistos?
Temos cenas que ainda engatinham e que carecem de profissionalização, alcance de mídia, estrutura de produção, para deixarem de ser curiosidades que saem em notas de jornal no meio da semana.
Temos cenas que não conseguem se bancar sejam em eventos ou impulsionamentos de carreira.
Estamos atrasados em conhecimento do público e vanguardistas no rumo musical dessas vertentes musicais.
Ainda vai levar um tempo para que o esforço de artistas do Eixo seja em demonstrar que buscam por uma diversidade merecida, de todos os tipos.
Ouvi o Duzz dizendo que a letra da música “Colméia”, em parceria com o Rapper Kayuá, fala sobre o dia em que a cena trabalhará em harmonia de objetivo, como numa colmeia.
Mas antes disso acontecer, teremos que assistir a quem só traz o vespeiro.
Licio Gomez é um maloqueiro culto de Pernambuco, que rima, toca violão, produz eventos e edita vídeos e fotos, além de escrever pra vocês como colunista do site.
Insta: @licio_gomez