Esta tem sido uma das campanhas mais faladas e reiteradas no cenário do Rap Underground, sobretudo do Rio de Janeiro. A causa vem crescendo cada vez mais e conta com a força da união entre a maior parte das rodas de rima da cidade. Ela trata sobre a prisão arbitrária do jovem Rodrigo Manoel da Silva, o GTA, mc e produtor cultural, apresentador e fundador da Roda Cultural da Central do Brasil. Ele é responsável por revitalizar a região da Praça dos Cajueiros, onde havia grande concentração de usuários de crack consumindo a droga e, após sua investida com outros idealizadores do projeto, o local transformou-se em uma área de cultura e lazer com oficinas de diversas modalidades artísticas. No dia 30 de Agosto de 2018, policiais militares, sob a justificativa de “resistência”, o agrediram e detiveram alegando desacato à autoridade. Ele havia sido ameaçado por policiais pouco antes de sua prisão e postou sobre o ocorrido em suas redes sociais com uma convocação ao não abandono dos movimentos de rua.
A ação foi extremamente autoritária, bruta e gratuita, gerando comoção e revolta, já faz quase um ano de sua detenção e sua sentença só foi julgada em julho de 2019 na 14ª Vara Criminal, confirmando a prisão, por 7 anos, do jovem que, além do desacato, responde por um suposto assalto à mão armada em denúncia feita sem prova ou vestígio algum. Do lado de fora da audiência diversos jovens periféricos e ativistas culturais manifestaram-se a favor de Rodrigo, porém até agora não surtiu grandes efeitos, mesmo assim, entre estes, algumas das organizações culturais que oficializaram seus apoios estão:
Roda Cultural da Central do Brasil
Batalha do Real / Brutal Crew
Encontro de Cultura RJ
Stuffa Coffe Shop
Favela CineClube
Roda Cultural do Jacaré
Roda Cultural do Centenário
Roda Cultural do Beira Mar
Roda Cultural do Dois Irmãos
Roda Cultural do BGK
Roda Cultural do Pac’stão
Roda Cultural da Penha
Roda Cultural do Parque União
Roda Cultural de Canta Tereza
Roda Cultural da Cardoso
Sarau Divergentes
Entre abaixo assinados e protestos, a campanha segue firme tanto nas redes sociais quanto nas ruas e eventos, a tradicional Batalha do Real, no dia 19/04/2019 chegou a fazer uma edição especial do evento com o nome da campanha #LiberdadeGTA, trazendo à tona o debate com apresentações de artistas ligados ao mc e produtor cultural. Neste momento, o Polifonia Periférica também se manifesta em apoio à causa.
Rodrigo GTA foi preso de forma similar ao DJ Renan da Penha, outro jovem negro, artista e produtor cultural preso injustamente, mais uma história que não é novidade alguma no Brasil e no mundo. Recentemente a Netflix estreou a série “Olhos que Condenam” que aborda a mesma temática, ela conta o caso real de incriminação injusta de 5 menores de idade entre latinos e afrodescendentes nos EUA que teve apoio midiático do, até então empresário, Donald Trump nos anos 1990 e acabou com a vida dessas pessoas e suas famílias sem que houvesse a mínima punição para os juízes, promotores, jornalistas e policiais envolvidos no caso.
Essa história e tantas outras são similares à de Rafael Braga, o catador que foi injustamente preso durante manifestações de protesto popular, em que ele nem estava envolvido. Depois de alguns anos conseguiu a liberdade condicional e foi novamente detido de forma covarde por policiais que reconheceram sua tornozeleira e decidiram por associá-lo ao tráfico da região em que estava no momento da abordagem. Assim como no caso do mc, o caso Rafa Braga mobilizou campanhas, ativistas culturais, ganhou projeção nacional na internet e no final a resposta que tivemos foi sua prisão mantida e a eleição de um presidente declaradamente racista e um governador genocida que insistem em bradar que a prisão ainda é pouco, que o correto é o fuzilamento de pessoas que moram em áreas de risco.
Segundo dados do Levantamento Nacional de Informática Penitenciária (Infopen) divulgado dia 08 de dezembro de 2017 pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China, chegando a mais de 726 mil presos, sendo mais da metade destes, jovens entre 18 e 29 anos, 64% do total são negros e 40% ainda estão aguardando julgamento de suas sentenças. O sistema penitenciário Brasileiro possui apenas aproximadamente 368 mil vagas e 89% dos presos estão em unidades superlotadas.
“A justiça criminal é implacável, tiram sua liberdade, família e moral, mesmo longe do sistema carcerário, te chamarão pra sempre de ex-presidiário, não confio na polícia – raça do c*****!” – O homem na estrada (Racionais Mc’s).
Gustavo Caliban, Mosca Produções, Polifonia Periférica.