Por: Renata Percílio Rodrigues
Qual a sua leitura do cenário do rap em Pernambuco e no Nordeste?
Sempre que perguntam a mim algo relacionado a isto me vem um filme na mente, vários fleches de tantas coisas boas que temos por aqui. Portamos as principais formas de alavancar um mercado compatível com os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e etc. Cultura, dom, luta e reconhecimento todos tem, não só aqui, mas em vários estados. Porém às vezes pergunto-me: “ Será que estamos 100% preparados no contexto geral?”
A música por si só tem a capacidade de responder essa pergunta certo? Claro que sim, mas tudo vai bem além dela soar e tocar de forma especial em corações. Existe um ciclo, e inúmeras situações dentro do contexto que citei acima.
Talvez seja mais plausível eu resumir tudo isso aqui e dizer: Os que estão destacados merecem estar ali. Mas não estamos só abordando esse foco em si. Merecer algo é vago, porém o reconhecimento de um trabalho, de um dom, de estar em palcos com estrutura que atende uma demanda satisfatória, de receber um cachê e respeito ao pé da letra ainda deixa a desejar no meu ponto de vista. Precisamos criar um universo padrão, quando se fala de música, se eu chegar, em cada estado e perguntar quais os destaques que cada um tem no meio musical, tenho certeza absoluta, que irão cansar de citar nomes. Daí então vai a pergunta, quando sua música é espetacular merece estar em lugares espetaculares?
Qual a avaliação que você faz do seu trabalho desde o seu lançamento?
Aprendizado constante como em qualquer outro meio profissional. Também tenho vários motivos de agradecer pessoas que me deram oportunidades de ter evoluído em pontos essenciais em minha carreira. Tenho absoluta certeza que a caminhada é longa e irei me preparar cada vez mais para o que vem pela frente. Avaliando de forma mais precisa e explicando cada ponto, posso dizer que o começo de tudo me trouxe muitas surpresas boas e tudo que gerava em cada fase era motivo de comemorações. Ser reconhecido com o que você ama não tem preço realmente. O momento atual é de foco nas prioridades, desde o início elas existiam, mas não tive a experiência adquirida na atualidade. Venho aprendendo a ter paciência com tudo que vou lançar, avalio as pessoas que irão trabalhar comigo com mais cautela; não desmerecendo nenhuma, é mais pelo fato de procurar saber o discernimento que elas terão ao juntar-se a família, a convivência dia a dia não é algo tão singelo muitas vezes. Também sei que ninguém consegue nada só e sem disciplina, por mais que o dom seja extenso, elevado e etc.
Que boas oportunidades surgiram desde que se lançou como rapper?
Então, várias surgiram, na verdade eu não tinha a pretensão de tocar tão rápido, ainda queria muito me dedicar nos ensaios, produções das músicas e etc. Toquei em eventos que sempre quis tocar, recebi e recebo convites que imaginei que não fosse receber tão cedo. Um dos convites que mais gostei foi para a Rinha dos Mcs de São Paulo-SP. Nesse decorrer tive e tenho oportunidades de trabalhar com profissionais de várias outras áreas, como jornalistas, videomakers, produtores musicais e assim vai. Acho muito importante poder adquirir conhecimento não só na música, mas em outros meios também. Como já citei, a caminhada é longa e onde vivemos temos que saber um pouco de tudo pra sermos bem sucedidos. Querendo ou não, é aquela história: O dom ainda não é o suficiente, na verdade, talvez nunca seja; claro que portas irão se abrir, mas o que quero dizer é que tem que haver uma lapidação no contexto geral da caminhada.
Havia previsão de lançamento ainda para 2013?
Não havia previsão, na verdade a vontade era de lançar algo em 2014, por está vivendo um momento de cautela nos lançamentos como havia citado no segundo quesito. É como sempre falo, precisamos ser constantes na evolução e respeitar a música de forma merecida. Como os recursos ainda não são tão extensos a paciência gera cautela e a cautela a perfeição. O trabalho pra chegar ao nível que mais quero vem sendo perpétuo e isso não me incomoda. Porque é assim que é, não é tão fácil trilhar um sonho por muitas vezes, mas pra se manter vivo tudo é regado a suor.
O que o levou a decidir liberar o novo single no dia 2 de dezembro?
Eu estou gravando músicas para o álbum de lançamento faz um pouco mais de um ano e meio, digo que todas as músicas que estão no disco são especiais pra mim, pois a letra 2 Gritos fala exatamente o que eu queria passar para o público no meu momento atual. Ela é a composição que eu precisava pra fechar o ano com um single por mais que não houvesse pretensões de soltar mais nada. Chamou muito minha atenção de fato, e creio que muitos irão gostar do resultado.
Qual a perspectiva do single “2 Gritos”?
Quando eu abordo um tema, todas às vezes sem exceção é por necessidade de compartilhar coisas boas e desabafar coisas que não me fazem feliz no momento, ou há muito tempo. Eu abordo vivências e etc. “2 Gritos” está dentro dessa conclusão. Quero dizer que quando lanço algo novo à prioridade não é tanto a perspectiva de aceitação ou não, é mais pelo bater de frente com os fatos: Saudar se for bom, e não aceitar se for mal. Claro que cada artista quer ter o trabalho bem aceito, mas pelo menos no momento a prioridade são essas que citei. Tudo que é sincero para o bem terá seu espaço sempre. E se for pra responder ao pé da letra, creio muito em tudo que faço e sei que existem os que creem também.
De onde veio a inspiração pra esse novo single?
Os conflitos que vivenciamos no dia a dia com a sociedade e o sistema, o incômodo e o cansaço espiritual em ver tanta conivência diante do caos, nos faz um, porta voz a mais para combater essa causa. A certeza é que muitos sentem de forma literal, a alma grita por solução nessa sobrevivência óbvia. A inspiração é regada ao inconformismo por essas vertentes que citei.
Pode-se dizer que há, na música, a representação de um descontentamento com a sociedade que o envolve?
Não só por me envolver de fato, mas por envolver todos ao redor. Essa pergunta é boa porque o descontentamento é sem sombra de dúvidas muito grande, e ficar olhando não estar nos planos. Somos injustiçados, certo? No Brasil, as causas da injustiça social são muitas profundas. Nossa cultura assimilou e aceitou conviver com certo tipo de violência, talvez a mais brutal, que é a escravidão, acreditando ser possível o ajustamento de ideais libertários e democráticos com uma estrutura social completamente injusta; aceitamos com certa naturalidade e por séculos, os privilégios de poucos coexistindo com a supressão dos direitos de outros. Na atualidade, são sabidas e diversas as pesquisas sociais que confirmam que a injustiça social atinge determinados grupos sociais, como por exemplo: as mulheres recebem salários menores que os homens, ocorrendo o mesmo com os negros e a violência afeta muito mais os jovens que possuem baixa escolaridade e os que estão desempregados. Isso pode soar da forma básica e que muitos veem de modo clichê no meio em quem vivemos e como expressamos nossa cultura, nossa arte. Todos falam que o rap só taca o pau no sistema! Mas será que é só o rap mesmo? Óbvio que não! Se eu for citar a quantidade de sambas e outros gêneros musicais que abordam isto, irei passar muito tempo colocando em pauta por aqui. Estamos no nosso melhor momento e a hora é agora.
Qual a importância da participação do seu antigo parceiro Mota beats nesse novo trabalho?
Musicalidade e criatividade. 2 Gritos precisava de tudo isso, e o Mota tem de sobra. Ele foi um dos artistas que mais me identifiquei e me identifico. Desde os primeiros singles que lançamos. Já tivemos facilidades de trabalhar juntos e tenho certeza absoluta que o resultado para o público em questão de qualidade musical propriamente dita será muito bacana.
Por fim, qual é a mensagem que você espera que seja recebida pelas pessoas através do single “2 gritos”?
Perseverança, fé e estado de espírito apaziguado. Precisamos estar vivos não só na matéria, mas com nossa força espiritual, nós somos fortes a partir do momento que queremos ser fortes e pra isso o interior precisa estar alimentado de doutrinas benéficas a todo custo e todo momento. Quando você vai pra guerra não adianta só levar as armas letais e sim o que irá te fazer desviar do caminho torturador.