
Créditos: Thiago Maia / Canal Eu Te Amo Madureira
Show da turnê ‘Orvalho’ leva emoção, crítica social e uma explosão sonora à Arena Carioca Fernando Torres, reafirmando Chico Tadeu como uma das vozes mais potentes e sensíveis da cena musical carioca.
No ultimo sábado (22), o rapper e compositor carioca Chico Tadeu transformou a Arena Carioca Fernando Torres, em Madureira, no epicentro de uma experiência musical e afetiva inesquecível. A turnê “Orvalho” desembarcou no coração da Zona Norte do Rio de Janeiro, levando consigo não apenas ritmos, mas também emoções intensas e energia pulsante e genuína. Filho orgulhoso do bairro, Chico entregou uma performance intensa, cativante e de muita força emocional que gerou uma perfeita simbiose com o público. Vimos um artista, seguro, versátil e muito criativo que fez surgir um personagem a cada canção que cantava.
A tarde/noite começou com o belíssimo show de abertura da banda Retrovírus executando, com muita competência, uma setlists repleta de clássicos inesquecíveis do rock internacional e nacional. O grupo revisitou o rock das décadas de 80, 90 e 2000, além de tocar belas canções autorais, gerando uma atmosfera vibrante e intensa. Vibração e energia que não resultaram apenas do repertório escolhido, mas principalmente da qualidade da banda.
Os intervalos foram preenchidos pelo DJ Bandido Sensível que presenteou o publico com grandes clássicos da música nacional.
Às 18h30, os primeiros acordes da turnê Orvalho ecoam, e o espetáculo ganha vida. Chico Tadeu assume o palco, acompanhado por uma banda de peso: Victor Baptista na bateria, Denis Melo no baixo, Kiko Grifo na guitarra, Igor Lemos na percussão e Bukola Tey na segunda voz. Juntos, eles transformam a arena em um universo sonoro vibrante, onde a música reinaria absoluta até o ultimo acorde.
Chico Tadeu sobe ao palco com um show que reinventa suas canções em novas versões, com arranjos cuidadosamente elaborados. A apresentação trouxe uma releitura sofisticada de seu repertório, transformando os beats mecânicos em harmonias orgânicas. Esse formato permite a Tadeu explorar sua liberdade artística, improvisar, criar e até recriar suas músicas, ampliando ainda mais sua expressividade musical.

O show é uma experiência musical que nos transporta pelo rap, funk rock, jazz, samba reggae e bossa. Nesse cenário, Tadeu interpreta suas principais canções, incluindo “Kairós”, “Ahimsa”, “Trem da Norte” e “Toda Malandragem”, entre outras. Em um momento intimista, Tadeu desce do palco para cantar “Minha Preta”, de Bebeto, junto ao público. A troca é repleta de afeto, e a plateia retribui com uma participação emocionada. Em outro momento, Tadeu entoa um trecho de “Samurai”, de Djavan, conquistando mais uma resposta emocionada do público.
A noite ainda teve um momento marcante com a presença do vocalista do Monobloco, Renato Biguli. “Biguli é um mestre, um verdadeiro professor da música”, afirmou Tadeu ao apresentar o convidado, ressaltando a relevância de um artista negro da Baixada Fluminense que se tornou inspiração para tantos outros.
Tadeu usou os intervalos entre as músicas para provocar reflexões no público sobre diversos temas. Essa ideia mostra que arte pode ter um lado político, transformando a sociedade, mexendo com as emoções, sensibilizando e proporcionando reflexão. Um show pode ser um ato político.
Em alguns momentos Chico Tadeu incorpora um cronista urbano que fala do cotidiano do cidadão comum, de historias de vida, de cultura, da dor e alegria do cidadão que faz a cidade se movimentar. Uma troca de saberes e conhecimentos que gera um sentimento de pertencimento a quem ouve.
Um grande show sempre pede um encerramento à altura. E foi assim que Chico Tadeu fechou sua apresentação, convidando o público a refletir sobre questões profundas. Ao estender uma bandeira carregada de significados e memória, ele estampou no tecido as imagens de figuras como Dom Phillips, Bruno Pereira, Genivaldo de Jesus Santos, Marielle Franco e Cláudia Silva Ferreira, em um poderoso tributo às vítimas da violência e da injustiça no Brasil.

E assim, em uma noite de música, história e resistência, Chico Tadeu reafirmou sua força como artista.
Essa foi apenas a primeira parada de “Orvalho”. A turnê seguirá para outras regiões do Rio de Janeiro, levando a arte genuína de Chico Tadeu para além da Zona Norte, atravessando pontes e túneis para ecoar sua poesia em cada canto da cidade.
Nietzsche afirmou que “Sem a música, a vida seria um erro”. A música é colocada como algo essencial para a experiência humana. A música é afeto, é sensação, é a linguagem das emoções. Sim. Nietzsche estava coberto de razão. Sua afirmação encontra eco em experiências cotidianas, como a sensação de prazer, leveza e satisfação sentida por todos ao final do show. A música dar sentido e cor à vida. Orvalho nos proporcionou a sensação de quietude e serenidade, A arte transforma a vida.
