Álbum tem cinco faixas que fazem passeio pós-moderno pela obra do artista
A intimidade de Madu com a obra de Tom Zé contraria todas as teorias de que escutar o artista é difícil. Talvez seja para ‘iniciados’… E, se é para iniciados, Madu é veterano. Depois de seu último álbum, Dharma, que tem duas obras de Tom Zé, Madu resolveu colocar uma lupa mais profunda e potente em cinco outras canções, com participações valiosas de Elisa Gudin e Daíra. O álbum ‘Estudando Tom Zé’ chega às plataformas digitais no dia 05 de agosto, de forma independente.
A ponte entre Madu e Tom Zé se deu pelo produtor Guilherme Gê, ainda durante as gravações de Dharma, que abriga Tô, com participação de Paulinho Moska, e Vai (Menina amanhã de manhã), com a companhia primorosa do próprio autor. ‘O Gê fez o convite oficial a ele de participar conosco de Dharma e o resultado foi a participação em Vai. A partir daí, resolvi mergulhar mais fundo na obra do Tom Zé, que é genial e extremamente vanguarda. Quero jogar ainda mais luz a partir de um novo olhar sobre ele’, conta Madu.
‘Estudando Tom Zé’ reúne cinco faixas, com produção, arranjos e instrumentação de Guilherme Gê. Tendo ‘Sandália’, uma canção de outros tempos (anos 50), quando o chão era terra batida e o que se calçava eram sandálias. ‘O nome dela era Dalma. Eu fiz a canção para ela. Tentei tocar, cantar não consegui. A voz não saía… Eu teorizava, afinava o violão e… não saía. Dalma foi ficando nervosa. Fui para casa com o fracasso na mão’, conta Tom Zé.
‘Ele enviou um áudio no WhatsApp para o meu produtor cantarolando essa linda canção. E decidimos que seria a melhor abertura possível para o trabalho’.
Além da abertura de Sandália, Tom Zé escreve a orelha do álbum, com um texto singelo que resume sua visão dessa releitura:
“O Guilherme Gê me mostrou. Eu vi que até canções abandonadas – porque não tinham condição comercial – até estas, Gê metamorfoseou em verdadeiras belezas. Eu fiquei fã, sou fã, ouço todos os dias. E espero que vocês também ouçam o EP do Madu”, cintila Tom Zé.
Na sequência, ‘Mãe (Mãe Solteira)’, com participação de Elisa Gudin. ‘Sempre curti tocar essa no violão, cabe bem na minha voz. A Elisa traz uma nuance feminina que eu sentia falta. Além de uma linda performance no seu último EP, onde fez uma imersão na obra do Elton, parceiro do Tom Zé nessa composição. Tem uma letra intensa, de profunda reflexão. Essa faixa ainda conta com o músico João Viana na bateria’.
O passeio continua com ‘Solidão’, como segunda referência do artista a ‘Estudando o Samba’. ‘Quis trazer duas canções desse álbum ao cenário porque para mim é um dos mais me tocam. Inclusive tendo inspirado o nome do meu trabalho. Quis interpretar de forma sensível a obra do irreverente artista, mas mantendo a essência dele’, explica.
‘Esquerda, grana e direita’, de Vira Lata na Via Láctea, ganhou versão mais potente e dançante, com uma reconstrução ainda mais subjetiva. ‘Essa canção para mim simboliza muito bem o momento político que estamos vivendo. Me toca como um resumo da crise democrática que passamos de 2016 até agora’, resume Madu.
O trabalho encerra com ‘Se o caso é chorar’, com a linda interpretação da talentosa Daíra. ‘Essa canção foi primeiro lugar nas paradas de sucesso em 1973 e, como disse o tropicalista, ‘essa música é toda plágio’. Furtada de grandes gênios, o que muito me inspira como promissor ‘ladrão de canções’ que sou. Tem referências a Chopin, Rolling Stones e a segunda parte é toda uma colagem: um tango de Nelson Gonçalves, um remorso de Lupicíneo Rodrigues, uma inversão de Caetano Veloso e uma pitada de Ary Barroso’, resume Madu.
SOBRE MADU:
‘Carioca’ nascido em Santa Catarina, vem de berço que o estimulou ao aperfeiçoamento na música desde a primeira infância. De formação musical ampla, experimentou aulas de violino ainda menino, instrumento que serviu de trampolim ao violão.
Mudou-se em definitivo para o Rio na adolescência, momento ideal para deixar aflorar a alma carioca que sempre o habitou. Cria do Baixo Gávea e do Posto 9, formou-se em Jornalismo e foi dono de uma rede de lojas de suco, da qual se desfez mais tarde, com a morte precoce do pai, quando sentiu inevitável a necessidade de dedicar-se integralmente ao grande prazer de sua vida: a música. Desde então se auto intitula um ‘ladrão de canções’, pelo enorme prazer que tem em destrinchar e interpretar à sua maneira canções de grandes nomes da MPB, além de suas próprias composições, que passam por um longo processo de aperfeiçoamento.
Seu primeiro trabalho foi Madu (2018), onde reúne 12 faixas entre autorais e revisitas a Rogê, Marcelo D2, João Nogueira, João Bosco, Jorge Aragão Chico Sampa e Guilherme Gê, este último também responsável pela produção musical. No segundo álbum, Dharma (2020), também com 12 faixas, primorosas participações de Tom Zé, Pedro Miranda, Paulinho Moska e Luana Carvalho.