Assim Edgar despediu-se de Ultrassom (Deck/ 2018), primeiro disco da trilogia que consagra o renascimento de seu alter ego, O Novíssimo Edgar. Sua infância e adolescência como andarilho pelos estados do Brasil materializam-se em suas profecias, sua tecnofobia e o medo sobre o futuro que a humanidade reservou para o planeta. O futuro distópico que ele tanto temia era inevitável e é quando decide abandonar as profecias que seu inconsciente revelava para mergulhar de cabeça nas entranhas do mundo real.
“Miga cansei de explicar que esse país tá uma guerra e não uma festa, que entre um mundo e outro somos um portal…”
Assim Edgar apresenta Ultraleve (Natura Musical), que será lançado pela Deck em 2021, ao dar partida no segundo momento da trilogia, com o single “Também Quero Diversão”, lançado ainda em 2020. Se Ultrassom revelava as primeiras imagens de algo ainda desconhecido, os acontecimentos retratados nas letras desse novo álbum acontecem diariamente, como um despertador biológico que faz o mundo de hoje acordar ao descrever um violento retrato de uma sociedade que devora os sonhos de seus povos sacrificados em nome de uma modernidade autodestrutiva onde o consumo frenético, o fanatismo religioso e o lento processo de destruição do meio ambiente já estão comandando o futuro do nosso país e do restante do planeta.
Nessa música, Edgar resgata suas raízes do funk, nascido e criado na favela do Coqueiro em Guarulhos -SP, a letra traz uma mistura de distopia periférica com uma pitada de ficção que faz o ouvinte se perguntar em qual ano do calendário gregoriano ele está. Também quero diversão e diversidade de gênero. Praticamente uma crítica a novas maneiras de se fazer alienação, os tanques de guerra, os caças americanos e o feminicídio que invade a favela, colocando os moradores em um fogo cruzado. Religião versus Criminalidade, o abuso de poder da polícia militar contra o lazer do fim de semana. Quando a chacina no baile de Paraisópolis aconteceu essa música quase foi lançada pela proximidade dos fatos.
O futuro nada mais é do que o que fazemos com nosso presente e Ultraleve se difere de seu antecessor justamente por essa aposta de mudança no agora. O primeiro single, com produção assinada mais uma vez por Pupillo e clipe dirigido por Edgar e Tulio Cipó, cristaliza a revolta de seu autor. Ele cobra um posicionamento social, em relação a igualdade de gênero, paz e liberdades em uma sociedade intolerante que segue cada vez mais anestesiada e embriagada com doses mortais de espetáculo e entretenimento.
“Continuo a minha luta para conscientizar a periferia sobre seu poder criativo e transformador, e a batalha que é reverter os padrões de dominação social que foram impostos pelas elites do planeta. Também quero diversão e diversidade de gênero”, diz o artista.
Edgar foi selecionado pelo programa Natura Musical, por meio da lei federal de incentivo à cultura, ao lado de Elza Soares, Emicida, João Donato e Letrux. Ao longo dos 15 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para 123 projetos no âmbito federal, como Lia de Itamaracá, Mariana Aydar, Jards Macalé e Johnny Hooker.
“O futuro que queremos construir é coletivo. Ele passa por momentos de tensão, mas, com a música, somos capazes de chegar a um lugar comum, respeitando a diversidade. Os artistas, bandas e projetos de fomento à cena selecionados por Natura Musical trazem a mensagem de que o futuro pode ser mais bonito com a música e com envolvimento de cada um de nós”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding.