Em seus oito anos de carreira, Santuspê talvez esteja vivendo seu melhor momento e subindo degraus. Santuspê muda de patamar ao mudar seu olhar e sua perspectiva sobre seu trabalho e sobre o próprio rap. Sua carreira solo sempre foi comprometida com tudo que o cerca no seu cotidiano: a favela, a violência policial, o racismo, a desigualdade social, entre tantas questões que envolve a árdua vida de um jovem negro da periferia. Porém, o mais importante foi perceber que o rap é um jogo e aprender a jogar o jogo. Foi essa mudança de percepção e posição, aliada a seu talento incontestável, que o fez amadurecer e mudar de nível.
Foi com o lançamento da genial “Diss para O Fim do Planeta” que Santuspê faz essa virada ao mostrar sua indignação e nojo com tudo de ruim e sujo no jogo do rap. Santuspê mostra que está dentro do jogo, porém com sabedoria, ao lançar “Costa Barros Grime” em seguida. Agora consolida sua mudança de nivel com a fantástica e atualíssima “Auxílio Emergencial”.
O coronavirus veio escancarar o que já estava diante dos nossos olhos há muito tempo e que, de tão banalizada, tornou-se uma situação com a qual aprendemos a conviver: a desigualdade. Um vírus desvendou um Brasil invisível para o Estado que enquanto aguardam os R$ 600,00 do governo, sobrevivem de ações solidárias. “Auxílio Emergencial” relata o drama e a luta desses milhões de invisíveis esquecidos por um Estado genocida, que lutam pela sobrevivência, bem como contra as políticas racistas e eugenistas de um governo que caminha de mãos dadas com o fascismo.
Auxílio Emergencial é sobre tudo o que ainda não pudemos ter, Santuspê e Rt Mallone vem abordando de forma diferenciada, como tem sido sobreviver em análise, falando sobre sonhos e ambições adiadas pela falta de capital.
A diferença de classes é mais uma vez base da canção, que vem carregada de versos inteligentes e recheada de punch lines, metáforas, um refrão empolgante e um beat impecável assinado por LT. Cada verso é um tiro de canhão contra os que insistem em pisar nas vidas pobres das periferias de qualquer lugar. “Auxílio Emergencial” é uma canção manifesto, um grito da periferia em favor de vidas pretas e pobres.
“Me aponta quem nunca rendeu pra neurose com a geladeira vazia ?”, questiona os artistas
A arte de capa ficou por conta de Rafael Acioly, que já tinha assinado algumas artes pelo extinto grupo Peso Lunar. O lyric vídeo, mixagem e masterização ficaram por conta de Omaskot. Já O contra baixo e os teclados ficaram na responsabilidade de Marcus Gogoy e Pedrutes. A faixa foi lançada e distribuída pelo selo KOTFYp.