Por Samuel Lima
Onde ignorância fala a inteligência não dá palpites. Não tenho solução para os mandados que proibiu o funk no carnaval de São Gonçalo (Rio de Janeiro) em 2020. É farinha do mesmo saco daqueles safados que dão moral pros vermes maldito que mataram nove em um baile funk de Paraisópolis (São Paulo) no ano anterior.
Papo torto nós vê direto por aí. Essas placas assinadas por buchas de prefeitura, que dizem fazer ou proibir alguma coisa, é caô batido. Acreditar que político faz alguma coisa pra alguém é esperar morcego doar sangue. Os procede das vacilações do Brasil com o funkeiro é cuzisse estabelecida com qualquer brasileiro humildão, trabalhador.
Como vou proibir o funk no carnaval, na terra de Claudinho e Buchecha? Visão, quem pede intervenção penal pro funk, e chama essa polícia militar colonial, de cana-de-açúcar e garrucha na logotipo desde antes da Lei Áurea e da Abolição da Escravatura (1888), pra “resolver” as nossas caozadas, tá peidando pra aquilo que só se vê ouvindo, e só se entende sentindo.
Sem neurose, o problema de toda a estética funk ou de outra direção a se travar no Brasil, está naquilo que remete ao negro. Proibido ou não, o corpo funkeiro sofre a criminalização sobre a cultura negra brasileira. Aldeia, quilombo, favela, rua, capoeira, samba, umbanda, candomblé, funk são caminhos de frestas reveladoras do que não se fala, tão pouco são agradáveis de falar e, mesmo assim, são faladas.
A dita anda dura mesmo com a abertura, e funkeiros de outros períodos rocam pra funkeiros mais jovens, pedindo mira pra própria cabeça. Fecham com os mandados que não escutam e não dançam funk nem em período de eleição, e entram numa onda máxima sem cheirar, fumar ou picar nada, batendo palma pra palhaço sem gração.
De tudo, fala dor passa mal na troca da asseveração por disposição, onde pensar o funk, ou qualquer outra afro diáspora brasileira, é lembrar que o corpo negro, ou o que remete a ele, é passível de seu próprio genocídio. Moro? Cuzão, fica escuro o problema que não é o funk, e sim quem se incorpora com ele no momento de festa, entretenimento ou alguma outra fita cotidiana.
Não quero diminuir as paradas no funk ou em qualquer liberdade, a presença que nasce entre a distância e a ordem para manter algo afastado. O que tem de problema no funk já é questão em outra cultura. A vida te derruba pra você crescer, e no funk brasileiro isso não é diferente.
Tô ligado que o mundo funk é som brasileiro que sarneia o empenho da liberdade revelada nas contradições sobre o confortável estabelecido. Quanto mais tentam afastar o funk de algum lugar ou momento, como o carnaval, mais ele brota. Ele tá aí já de maior tempão recebendo essa negatividade, principalmente com as ações dos cana, sem técnica ou alguma qualidade para atender as demandas na cultura e educação.
Sim, pra nós, funkeiros, brasileiros, negros, essas paradas fortalecem nossos entendimentos, com nossos lugares: o funk é escola que também age fora dos muros, por diferentes práticas que troca obrigação por satisfação. Avisá-la pros pela saco que tem que ter disposição pra qualquer música, mas, no funk, tem que tá moleque pro transvio ritmado nos 150 bpm, ou muito mais e, quem sabe, até muito menos. O funk é o que ele quiser, e não o que dizem dele.
O funk no Brasil vai além da própria música, quando deixa as miseráveis expectativas da certeza para seguir na fartura de narrativas com o improvável. Passam e ficam artistas e quem os apreciam. “Pacífica” as impunidades nacionalistas. E depois de toda quarta de cinzas, feliz ano novo funkeiro, Brasil!
Mais uma vez a presença do funk no carnaval aconteceu e, como sempre, na humilde, no diminutivo que o deixa gigante na avenida do samba: é a paradinha das escolas do Grupo Especial que, no mesmo ano de 2020, fez Jesus Cristo levar dura da polícia e dançar passinho.
Salve o funk! Salve o carnaval!
Rito e água pra geral.
Pega essa visão deu aula