Por Samuel Lima
Troquei uma ideia com a recém aposta da Universal Music no funk Brasil: MC Du Black.
Da Zona Norte carioca encostada com a Baixada Fluminense – cria de Jardim América (Rio de Janeiro) com a favela da Furquim Mendes (Duque de Caxias) -, o meno também é conhecido como Dudu, Du ou Carlos Eduardo.
Mais um jovem Silva, MC Du Black mostra a diversidade em seus “mp3”. Quando crescia na primeira década dos anos 2000, conheceu os “black” da música. Gospel, instrumental, rock, se percebeu funkeiro nos seus 12 anos (2008), quando começou a dançar com aqueles DVDs da Furacão 2000. Assistia Os Hawaianos, Bonde dos Magrinhos, Os Mulekes Piranha… o meno fala e lembra dos que vieram na frente.
Antes desse período, seu irmão mais velho já passava a visão da música que ouvia na igreja, além de outros barulhos, como o rapper Tupac Shakur, conversas sobre os Panteras Negras e responsabilidades que devemos ter na vida. A vontade do meno cantar veio dessa base. Du Black lembra que ouvia Emílio Santiago por causa de sua mãe, apreciadora desse grande artista brasileiro.
Tudo sempre na parentela, a Família Grande Produções representa seu produtor, seu irmão, gente que acredita nos sonhos funkeiros. “Tive o melhor dos dois mundos” disse o meno, mostrando respeito na decisão de querer mudar o nome artístico aos 18 anos. Ele colocava o pronome “Mr.”, mas logo o achou pretensioso, tendo em vista suas referências, sobretudo a do Catra (*1968 – +2018). O sucesso de sua excelente produção começou nesse momento característico de qualquer justo funkeiro: a percepção da humildade.
E “Tudo Aconteceu”. A música seria apenas uma abertura de um Podcast, onde o produtor Salguerinho tinha convidado o rapper carioca Delacruz para participar. Mas, como já diz os Racionais MCs, “Um bom malandro, um bom conquistador, tem naipe de artista e pique de jogador”. O invocado DJ percebe outra viabilidade para o som, e pensa com seu MC (Du Black) a parte para as rimas virarem música.
O MC lembra:
“Tínhamos [ele e Delacruz] um problema bom. Está acontecendo muitas agendas de shows pra gente. E por isso o jeito foi fazer esse trabalho diferente. Cada uma fez sua parte. Elas foram enviadas e o resultado foi esse. Fiquei muito feliz. Ainda mais porque não tem muito esse tipo de coisa no funk.”
Sim, Ayrllys, o produtor do videoclipe, apresentou um tipo de cenário filmado sobreposto a uma película que, tipo, acho eu, imita animações flash. O meno esculachou muito! A parada ficou estilo “O Homem Duplo” [A Sccaner Darkly], aquele filme que tem o Keanu Reeves, de 2008. O single tem tudo necessário para ser hit aos ouvidos dos aplicativos de músicas e vídeos mais acessados pelos brasileiros. Bem produzida, “Tudo Aconteceu” revela a identidade talentosa de todos os artista envolvidos na produção, do DJ ao animador/ desenhista que deu imagem a música.
E o papo fluiu. Du Black falou da sua preferência atual, em cantar funk com pegada melody, baladas românticas e para festas no modo 150 BPM. Mas o MC também não negou seu passado, quando MCs como Felipedin e Rodson gravaram suas músicas, do tipo rap consciente.
“Quando comecei a compor, eu tinha como referência esse tipo de composição, que manda o papo mais reto, que fala de coisas duras, da favela. Tentei uns feat. Na época, não consegui de imediato. Me viam mais como compositor. E assim, uma galera foi cantando minha música, principalmente os MCs da área, como o Felipedin. Nessa pegada de melody com 150, consegui destaque. Daí, tenho que aproveitar e mostrar meu talento. Agora estou ganhando público e amadurecendo esse meu lado. Estou feliz com isso. Mas tenho algumas coisas escritas. Nada impede de eu fazer um feat. com algum MC, ou algum outro artista, que me chame pra fazer algo diferente.”
O MC também comentou da “Agora ela quer vingança”, feat. que fez com DJ Agatha, outra recente revelação do funk. Ele lembra dos compartilhamentos e/ ou memetização da expressão “eles que lutem”, contida na música.
“Ela foi uma das primeiras que acreditou em mim. Depois de me ouvir cantar, convidou e aceitei. Gostei de ter participado. Ela fez uma parada responsa, com a ideia de informar as pessoas sobre uma situação que aconteceu com ela mesma: o bullying. Acho interessante quando tem essas provocações, do mundo dar voltas, para aquela pessoa que um dia foi esculachada. E é uma parada séria. O jogo sempre pode virar.”
Sobre realizações com essas participações quem vem surgindo, MC Du Black tem realizado alguns sonhos/ músicas, como o de gravar com o Delacruz. E ainda explica que sonhos não faltam em sua vida.
“Sou fã dele. Foi um sonho realizado essa parada. Gostaria de sempre gravar assim, com gente diferente. Tenho muita vontade de gravar com a Iza. Ela canta muito e está levando o trabalho muito a sério. Ela é muito talentosa.”
Sobre outros voos aterrissados, MC Du Black completou com o dia que o The Black Eyed Peas assistiu ao seu show.
“Foi incrível ver do palco os cara que eu tanto admiro na música internacional. Tive que tirar uma foto com eles. Eles estavam descansando, após o Rock In Rio, e foram dar um rolé. Escutar um funk. Acabaram em um show meu. Fiquei muito feliz e realizei outro sonho.”
Colecionando felicidades o jovem MC Du Black segue como um funkeiro clássico. Lançando e descobrindo sonhos, tem realizado alguns, como a “Tudo Aconteceu”. E ele segue no amadurecimento da realização de outros sonhos, mais comuns entre nós funkeiro/ as como o de ver a possibilidade de certa representação, ampla e contributiva, para a própria família.
“Graças a Deus estou sonhando acordado. Posso ajudar a minha mãe nos deveres da conta. Tirar pessoas do lugar de criminalizadas para mostrar que elas estão trabalhando comigo, porque da onde venho, como qualquer outro lugar, a maioria trabalha. E quero seguir assim. Melhorando isso cada vez mais.”
A Crônica Funkeira Brasileira de um Tempo Miserável também espera isso e muito mais para MC Du Black. Aguardamos por outras oportunidades de conversas com esse funkeiro que remete aquilo (en)cantado em “Prelúdio”, música de Raul Seixas: “sonho que se sonha junto, é realidade”.
Também espero ser cada vez mais uma escrita sobre a artistagem funkeira contemplada por oportunidades amplas, como as que MC Du Black vive agora, com suas produções/ família/ favela em grandes gravadoras.
Rito e água pra geral!
Escute, assista ao clipe e siga o funkeiro MC Du Black (feat. Delacruz) com “Tudo Aconteceu”