“Burla”, novo vídeo de Slim Rimografia, é, segundo o próprio, mais uma perfomance do que um clipe. A música, presente no EP SinGo, de 2018, fala, nas entrelinhas, das prisões mentais e materiais mas, explicitamente, trata da repressão policial e das desigualdades. A imposição midiática, representada no vídeo através das TVs propositadamente deixadas em glitch, mais a sociedade do espetáculo em torno da violência racial também servem de temas.
No beat do trap, Slim se divide entre a rima dos versos e o canto do refrão com suas típicas canetadas que acompanham os graves. A produção ainda guarda efeitos e riscos numa pegada velha escola, além do recorte final, que sampleia “Negro Drama”, dos Racionais MC’s, síntese do “peso do som periférico”, linha de abertura de “Burla”. Racionais rende ainda mais um referência ao vídeo, que buscou na capa de Raio X Brasil, disco de 1993 do grupo, a temática carcerária, representada pelas grades de uma gaiola.
O roteiro reflete sobre o embate interno de manter-se em luta, a metáfora do treino físico para obter uma mente forte capaz de burlar a realidade sistêmica do negro; fazer da exclusão ferramenta para subversão, tal como proporcionado pelas artes e pela poesia marginal, como Slim vem sugerindo desde o single “Bey” (2015), uma alusão ao escritor Hakim Bey e à desobediência cívico-artística.
Antes do lançamento oficial nesta quinta-feira (7), o rapper colocou em seu canal uma versão do clipe ao contrário, que, em reverse, ganhou o título de “Alrub” e deixou os seguidores intrigados. Nos comentários, Slim deixou seu recado: “Às vezes é necessário rever nossa forma de consumir arte, muitas vezes ignorando letras e apenas consumindo imagens. Refletir sobre essas questões é necessário e burlar formas e normas de se fazer música”.