Nas ultimas eleições a rapper, feminista e ativista Taz Mureb concorreu ao cargo de vereadora na cidade de Cabo Frio, na região dos lagos no Rio de Janeiro. Para quem a conhece não foi nenhuma surpresa, pois Taz é uma mulher de poucas palavras e muita atitude. Taz não foi eleita, mas com muita rebeldia e irreverência agitou as eleições em sua cidade e tirou grandes lições. Com o intuito de sabermos como foi essa experiência, decidimos entrevistar Taz Mureb que nos falou um pouco dos seus intensos dias de campanha. Confira!
1 – Quais foram os motivos que te levaram a se candidatar a vereadora em Cabo Frio?
Taz Mureb – Eu não consigo aceitar que os políticos roubem e fiquem impunes. Porque todo mundo sabe que eles roubam, até como e da onde roubam, mas as pessoas agem como se não fosse com elas, como se isso não interferisse na vida delas! E a gente sabe que não é verdade. Se um político rouba uma verba que é destinada à um serviço público, ele está me roubando diretamente, porque eu preciso de hospital, de faculdade, de transporte. Meu filho precisa de uma boa escola. E não temos isso porque os políticos nos roubam. O Brasil é um país rico. Só que desde Cabral apenas uma parte enriquece. E nós sabemos quem é.
Em cada cidade, em cada Estado, nós sabemos quem são as famílias e grupos que se locupletam pelo poder público. E eu simplesmente decidi não aceitar mais. Levei como meta de vida. Não tolero mais injustiças sociais e ações individuais que passem por cima do coletivo. Eu vou brigar sim. E eu vou brigar muito. E se me candidatar for um caminho, eu vou por esse caminho também. O que eu não vou fazer é ficar vendo TV e fingir que nada acontece. Esse foi o principal motivo.
O segundo foi o amor que eu tenho à essa Cidade. É um amor que me supera. Que me faz chorar. Ver o Canal do Itajurú, o Forte, a Capela da Guia, a Ilha do Japonês. Me emociona. Me dói fisicamente ver o patrimônio ambiental de Cabo Frio ser destruído. Me dói ver uma população sem orgulho, sem cultura, sem memória. Eu não vou ser mais uma. Se eu tiver que lutar por Cabo Frio, serei a primeira. Sempre.
2 – Qual a melhor e a pior lição que você tira dessa experiência?
Taz Mureb – A melhor lição é a evolução durante o processo. A semente que a gente planta. As pessoas, mesmo que lentamente, se conscientizando que, sim, tem algo errado. Tem algo muito errado. E você ver as pessoas despertando em suas próprias consciências é lindo. Cada pessoa é um embrião da Revolução. Mas a maioria jamais se dará conta disso. Então meu papel primordial é despertar essa consciência. E isso é minha maior vitória.
O pior são as pessoas que sabem que estão sendo roubadas e votam de conivência querendo mamata. Porque às vezes, uma pessoa não teve estudo ou vivência para adquirir esta consciência e continua sendo gado. Mas tem gente que tem essa consciência. Que sabe do processo. Que conhece os ladrões. E ainda assim votam neles. Na expectativa de um favor futuro. Essas pessoas pra mim são a escória. São as grandes culpadas. Podiam estar sendo difusoras de informação e viram pião de corrupto. Porque se essas pessoas não fossem tão compráveis, os corruptos não tinham nem equipe, nem cabo eleitoral nem nada.
O pior não são os políticos. Os políticos são horríveis porque eles estão lá representando o pior tipo de gente. Os verdadeiros traidores do povo. A pior experiência é ter que lidar com essas pessoas. Saber que elas fazem tudo por dinheiro e poder. Tudo mesmo. É horrível conhecer e conviver com gente desse caráter.
3 – Depois de ter vivido essa experiência, resume para nós o que é fazer política no Brasil?
Taz Mureb – Fazer política no Brasil é A ou B.
A: você é uma pessoa que quer mudar o seu dia a dia, sua cidade, seu país e não tem nenhum apoio financeiro altruísta e precisa convencer o tempo todo de que vc não é um pilantra e faz isso por amor.
Ou B: você é um pilantra que quer enriquecer às custas do patrimônio público e tem todo tipo de apoio financeiro de empresas/grupos e também da mídia, que convence o povo de que vc é o perfil A. Ou seja: ou você é militante ou você é pilantra. Os dois não existem. Quem faz política de verdade tem que ter militância na rua, tem que fazer trabalho de base. Fora isso, é só enganação.
4 – De fora do jogo vemos uma política suja, rasteira que explora mentiras, injúrias, fofocas etc. Como foi conviver com esse jogo sujo durante a campanha?
Taz Mureb – Eu me abstive. Não sou obrigada a compactuar com corrupto. E a maioria das pessoas que entram ora política se sujam porque tem medo de fazer diferente.
Eu não fui pras plenárias, pras convenções. Eu não fui pra comícios, não usei carro de som do partido. Eu ocupei a Praça principal da Cidade durante 20 dias. Eu dormi com moradores de rua, artistas e travestis. Eu dei oficina pra guardadores de carro e filhos de catador de latinha. Eu intermediei doação de livros e roupas. Eu revitalizei o espaço e as pessoas. Quem não entende a grandeza disso tá totalmente fora da realidade. Tá vivendo na bolha. E o meu papel é furar essa bolha.
Minha dignidade e minha honestidade saem intactas dessa eleição. E dinheiro nenhum do mundo faria ou fará eu trair a minha gente. Isso não é patriotismo não. É humanismo mesmo.
5 – Você pretende trazer essa experiência nas suas próximas músicas?
Taz Mureb – Com certeza. A minha arte é de militância. Minhas músicas trazem críticas sociais e questionamentos políticos muito contundentes e essa é uma linha que eu não vou abandonar.
Eu não tô aqui pra fazer views. Eu tô aqui pra fazer história. Eu sou da linha de Henfil, de Buarque, da LUTA mesmo. E cada experiência política se reflete nas minhas músicas.
Vem muito som de Revolução por aí. As pessoas já estão nas ruas. Eu já estou nas ruas. Eu apenas crio as trilhas do que eu acho que o mundo precisa escutar pra se unir nessa luta.Eu não sou mais um fantoche nessa guerra de ego.Eu tô na guerra mesmo.E eu sei o meu papel. O artista é linha de frente. E eu não tenho medo de botar a cara pra bater.
6 – Você tem intenção de concorrer em outro pleito?
Taz Mureb -Imediatamente após a eleição eu me jurei que nunca mais disputaria nada. Mas não é isso que eles querem? Que eu desista? Assim fica muito fácil pra eles ganhar o jogo. E eu não vou deixar assim de mão beijada não. Bretch diz que quem se abstém da política opta por ser sempre governado pelos ignorantes. Algo desse tipo, não é exatamente isso, mas a ideia é essa. E eu não aceito. Eu não aceito ser subordinada por ignorantes, incompetentes e maldosos. Eu não aceito ver uma criança passando fome enquanto a primeira dama tem mansão na França. Eu não aceito os hospitais caindo aos pedaços enquanto o Prefeito da minha cidade tem uma ilha em Angra dos Reis.
Eu vou lutar, cara.Até o fim dos meus dias. Pela valorização dos professores, pelo combate implacável à corrupção que suga a alma desse país.Eu vou lutar pelas crianças das favelas, pela desmilitarização da PM. Então é isso.Eu tô no jogo.Antes eles terem medo de mim do que eu depender deles.
7 – Fazer política no Brasil é?
Taz Mureb – Sujo. É AMOR acima de tudo. É raça. É não ter medo de ser ridicularizado, exposto ou ameaçado. É ter uma fé tão inabalável que você está fazendo o certo que nenhum obstáculo vai te impedir de continuar. Política não é pra fracos.
8 – Deixa uma mensagem final
Taz Mureb – Minha mensagem final é: Acreditem na mudança. Se envolvam. Não caiam na experiência de vida vazia que o sistema te impõe. Questionem. Tem pessoas no mundo todo lutando pela libertação desse sistema capitalista opressor que não se autossustenta. Precisamos de gente, de braços, de cérebro, de revolta. Se revolte, cara. É o melhor conselho que eu posso dar agora. Se você não está revoltado, você já é um deles.