Com uma história sólida no rap angolano e já com alguma estrada percorrida no Rap Nacional (Brasil) em virtude de algumas parcerias que têm sido construídas em prol da ponte de intercâmbio entre Angola – Brasil., o trio (Tribo Sul) constituído por Cavera C, Masta Joy e Pipokahz, são facilmente identificados pelas letras com suas metáforas e linhas bem pensadas, tendo se tornado uma das potências do political hip-hop africano.
O Polifonia Periférica teve a oportunidade de em entrevista conversar entre vários assuntos, com o Pipokahz líder da banda.
Por: Olga Syambonga
Qual é a vossa visão sobre a importância ou influência do Hip Hop na sociedade?
A resposta é bastante visível e acredito ser unanime, temos uma cultura extensa, de excelentes valores indiscutíveis. A utilização dos elementos artísticos do Hip Hop (Mc, Bboy, grafite e Dj), tem sido ao longo dos anos um veículo aglutinador da juventude na construção da cidadania, reconciliação, Paz, combate à ociosidade e a efetivação da inclusão social.
A frase o Hip Hop mudou a minha vida é cada vez mais frequente entre as comunidades, reconhecendo o facto de que o Hip Hop vem albergando e libertando muitos jovens e não só de muitas praticas improprias para o convívio social. Os factos fizeram do Hip Hop a Universidade de Rua, albergando entre as suas mais amplas faculdades um maior numero de estudantes que qualquer outra universidade.
O que deve ser melhorado no Hip Hop?
Acredito que mais do que no Hip Hop, o ser humano como um todo precisa ser melhorado, automaticamente o Hip Hop também será. Precisamos duplicar a compaixão, solidariedade, disciplina, amor, a leitura, discussão, aceitar opiniões contrárias sem nos impor, menos vaidade e futilidade nos textos musicalizado. Menos discurso e mais conduta. Ter consciência de que somos célula desse corpo chamado universo e que e que existem éticas e condutas a seres respeitadas e valorizadas.
Como é o movimento em Angola?
Igual ao Brasil e provavelmente no resto do mundo. Acredito que a única diferença é que temos para cada 1000 rappers, 100 beat makers, 50 grafiteiros, 25 bboys e 10 ativistas com conhecimento, sem esquecer que grande parte dos rappers dá mais vida ao flow e ao ritmo, do que no conteúdo da mensagem.
Tem se evidenciado com alguma constante o intercambio com artistas internacionais e com destaque a brasileiros. Pode informar como tudo começou e em que pé anda este relacionamento?
As parcerias com artistas internacionais começaram bem logo no embrião. Nascemos em solo Sul Africano, ladeados de muitos artistas não só destes pais, como também Tanzanianos, Congoleses, Zimbabuanos, Moçambicanos, Botswana e não só, enquanto que como os brasileiros teve inicio em 2001, após uma matéria e artigos sobre o grupo publicado pelo portal Bocada Forte e posteriormente pelo Rap Nacional. Daí então surgiu à oportunidade de trabalhar com o pessoal do Câmbio Negro, Mocambo, Mateus Pinguim e mais recentemente no EP REALIDADE COMUM, em parceria com o Front LR, com suporte de Sintomas Clã e a pouco com Czar Gêneses sob suporte do produtor Ricardo Mock para a Mixtape Vozes da CPLP volume 3 do portal undergroundlusofono.com, etc… São várias parcerias ao longo destes 14 anos encurtando o Atlântico por via do Rap.
Já alguma vez tiveram show no Brasil?
Nunca. Não por falta de convites, mas por falta de disponibilidade coletiva dos integrantes do grupo. Recordo que por motivos acadêmicos e profissionais, vivemos a 8 anos em países diferente. A propósito, aproveito a oportunidade para mais uma vez se desculpar de todos os promotores e amigos que por via de um convite para o efeito, receberam resposta negativa de nossa parte, mas cada dia que passa, acredito que o momento esta muito próximo.
Desde quando segue o portal Polifonia Periférica e qual seu ponto de vista sobre o portal?
Creio que seja a já 2 anos. O Rociclei cedo se abriu para nós e vem apoiando e divulgado nossos produtos. Acho ser na semelhança do portal africanhiphop.com, o portal com mais diversidade de conteúdos e proveniência de artistas e assuntos. Hoje conheço tanto do movimento latino americano graças ao portal.
Ouvindo a musica Ovelha Muda, sente-se a presença de elementos da musica com o mesmo titulo do grupo brasileiro Estratagemas de Deus. Trata-se de consciência ou fruto desta parceria?
É fruto da parceria. Por indicação de um amigo, ouvi a musica do Estratagema de Deus, amei, e logo surgiu a ideia de adicionar o meu ponto de vista no assunto. Rapidamente contatei os autores em virtudes dos direitos autorais, que felizmente foi liberada pelos manos, em seguida contatei o Khadhya um dos produtores do meu EP solo em construção e começamos o beat e o texto. Depois de gravado, o Cavera C, adicionou as vozes de Silas Malafaia. A minha versão exceto um ou outro verso já rimado pelo Estratagema, é totalmente outra desde a base até o texto, mas é legalmente uma versão. Razão pela qual o titulo é Estratagema (Ovelha Muda).
Bem recentemente para o single do EP TRIBOSULandu, uma das passagens da musica Respirandu a Frustrassaum, diz “Para que Deus exista basta alguém acreditar”. Vocês como grupo têm alguma duvida sobre a existência de Deus? Alias não é a única musica com este indicador.
Tens alguma duvida de que para que Deus exista basta alguém acreditar? Imagina que ninguém acredita. A existência divina terá algum efeito? Na musica Estratagema (Ovelha Muda) a uma passagem que diz “Eu creio em Deus, acreditando duvidando do meu jeito sim/Não sei se ele me escuta, mas falo com ele mesmo assim”, isto me torna ateu?
Quem segue vosso Rap na integra, logo percebe as linhas pensadas e a intervenção politica que a mesma transporta. Tem alguma razão para tal?
Tu conheces Angola, e de certeza que concordas comigo, o facto de não haver qualquer incentivo para rimar diferente. Vivemos numa republica que lidera o top das cidades mais caras, temos um presidente há 36 anos no poder, estamos entre os mais corruptos da lista, um país em que o conteúdo com maior eficácia no ensino acadêmico é o medo, não há respeito nem valorização a vida e diariamente viola-se a constituição. Diz-me, como podemos rimar louvores?
Falando de política e concretamente da onda de manifestações que tem sido frequente em vosso país pelos jovens do movimento revolucionário contra a governação, muitos deles ligados ao Hip Hop, você concorda comigo no pensamento de que falta um pouco mais de atitude e posicionamento dos artistas na cena atual em relação ao que está acontecendo?
Acho que sim. Aproveito relembrar que acredito na diversidade de opiniões, bem como na liberdade de opções, sem esquecer que juntos seríamos mais forte. Contudo, convém salientar que os rappers em Angola fazem as músicas sob o selo do medo. As pessoas têm muito receio de serem catalogadas como indivíduos com ponto de vista diferente, bem como muitos têm em reticências as iniciativas e objetividade em prol destas manifestações. Nos dias de hoje, o governo tem vários dos seus agentes infiltrados no movimento Hip Hop.
De certeza já ouviu falar do caso Lava Jato. Qual sua opinião?
Não tenho seguido em pormenores, mas até onde entendo, é nota mil. É uma pena que não temos órgãos em Angola que possa fazer ao mínimo 50% do caso para uma versão Angola.
Como esta somando o single recém-lançado?
Superando as expectativas. É emocionante o feedback em prol do Graum daj Palavraj e ao mesmo tempo Respirandu a Frustrassaum, ver os ouvintes e amigos separados pelas preferencia de escolha pelo o melhor dos 2 sons.
A proposito que língua é esta que vocês usam para escrever alguns de vossos títulos musicas? (Graum daj Palavraj, Respirandu a Frustrassaum, Marxa, Viagm Ekletika, etc..)
Não tem um nome atribuído, infelizmente ainda não. Talvez Angolês (risos), porque embora ser pronunciada tal como em português (Grão das Palavras, Respirando a Frustração, Marcha, Viagem Eclética), escrevemos de forma totalmente diferente. Que tal chamarmos de Português errado? (risos)… É uma forma de mostrar que nos cansamos da colonização linguística.
A pergunta que de certeza não se cala entre os apreciadores de vosso trabalho. Para quando o álbum de originais do single TRIBOSULandu? É verdade que o vosso ultimo álbum foi publicado a mais de 10 anos?
É verdade que sim. Nosso ultimo, primeiro e único álbum foi gravado entre 2000 a 2002, e publicado em 2003, fazendo agora 12 anos. Acredito que este ano sai o TRIBOSULandu, temos ela toda gravada e misturada, aguardando apenas a conclusão das negociações em que nos encontramos envolvida, para encaminharmos para a masterização e posterior edição.
No final da entrevista, agradeço que deixa uma mensagem para os leitores da Polifonia Periférica.
Obrigado pelo espaço! Muito rap a todos. Amem bastante, cuidem das pessoas que amam, façam aquilo que gostam nessa vida, recordem que nem tudo vai dar certo e que quando algo der errado, aprendam, levantem a cabeça e tentem de novo, não tenham medo de mudar de opinião, de valores, de princípios, de ideais. Às vezes nossas convicções podem virar contradições, assumam as mudanças. Paz e luz a todos!
Segue:
https://soundcloud.com/tribosul
http://www.cdbaby.com/cd/tribosul
https://www.youtube.com/watch?v=-hTfDh9QfBY&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=y4ZjVD1_100
http://www.mediafire.com/download/sepidr3vyd3nxyw/Tribosulandu+%28Single+Oficial%29.zip