Se tiver estômago, leia a letra de RAP abaixo:
[one_half] “Eu quero essas puta que fazem programa
E as mina certinha, essas mina que vem me levanta de grana
E eu quero as vadia
Que fode na cama igual puta africana
Essas mina me chama
Claro que gosta do jeito que apanha
Pensa em quantas fantasias eu não gero por dia
Nessa mente insana
E diz que me ama, vadia eu garanto que é só pela fama,
Quantas me visitariam se um dia eu caísse e ficasse na cana
Mas isso é real,
Essas mina de hoje não vale um real.
Eu deixo ela só de calcinha
na minha cozinha vestindo avental
Elas quer dá no meio sem camisinha vagaba do mal
Aviso que eu não vou arcar
com o custo da porra do seu pré-natal
[…]
Não acho que eu acho errado
só gosto de grana, de puta e conforto,
Eu trago meu gosto pra todos os mano
que forma a porra do comboio
Eu ponho de tapa na cara na puta
que mostra que fica com nojo
Veneno na fita, menina tomou
criminoso como ele é na rima
E hoje é o seu dia de sorte pois
você virou a putinha da firma,
E diz que é mulher
Que porra, nem aguenta menina te afirma, [/one_half] [one_half_last]
E abre direito essa boca
que agora eu vou ver onde a língua termina
A vida de luxo
e normalmente só temo o que eu uso
E elas me dá na esperança
Que eu pare o prazer e as largue de bucho
Nunca acontece, meu bruxo,
Eu sei bem as porra que eu faço
Conheço as vadia que eu pego
E a porra eu sei bem onde largo
[…]
E elas conhece o veneno mas poucas conhecem
o dólar do Kröeff
Vadia vê se não se apega e lembra que nada aqui dura pra sempre
Por isso que eu curto o que eu gasto
Por isso que as puta me gosta
[…]
Não é que eu sou grosso
Ou que eu te trate igual puta também
Existe umas mulher descente mas mina descente são poucas que tem
E as mina descente não curte ter um cara que vive só fora da lei
E as mina vagaba não curte minha cara só curte minha vida de rei
E eu ando sabendo que nada é de graça
Se foda essas mina novinha que eu vou me casar com uma velha ricaça
Faço o movimento, as puta por dentro tão logo sabendo
Policia faz operação e intitula com o nome de pare o veneno”[/one_half_last]
Poderia ser uma sessão de tortura para uma mulher, mas isso é uma música feita pelo rapper brasileiro Henrique Kröeff. Infelizmente o rapper não está mais vivo e presente entre nós para se retratar publicamente diante de tal canção. Mas, suponhamos que a música tenha sido uma declaração fictícia de uma personagem criada pelo Kröeff. Mesmo assim, a música contribui para o pensamento machista que vive enraizado na nossa sociedade. As declarações machistas e racistas são assustadoras pra mim, não entendo porque um ser humano precisa rebaixar outro desse jeito para ter algum tipo de status ou troféu na sociedade. Agressão, racismo, violência, estupro. Tudo isso está encrustado nessas linhas de maneira subjetiva. Dizer como uma mulher deve ser tratada, sem respeito nenhum e sem consideração nenhuma pela vida alheia.
Ah, seria bom se fosse só um MC que pensasse assim.
Infelizmente não é. Temos inúmeras letras que simulam e relatam feminicidios, que rebaixam a imagem feminina e que colaboram para as estatísticas diárias de atrocidades contra as mulheres. Mulheres em sua maioria negras e moradoras de periferia. E eu cansei de repetir as estatísticas, eu já decorei a todas elas e elas só aumentam!
O pensamento desses MCs geralmente mostra que a mulher não tem valor nenhum, apenas colocam a figura feminina como um objeto que pode ser ganhado ou conquistado, usado e descartado sem nenhum remorso. Colocam a mulher como um troféu ou algo que tem que ser cuidado porque é frágil. Não existe trabalho nenhum em emancipar as mulheres da opressão cotidiana que as aflige. Não existe interesse nenhum em ver as mulheres livres dessa relação de poder e privilégio que as violenta, que as mata. Para esses MCs machistas, não tem.
E se fosse só com um elemento seria bom também. Antes eu até achava que o problema era só com os MCs, até começar a colar com mais mulheres atuantes nos outros elementos do Hip Hop. Conclusão: grafiteiros, DJs, b.boys, militantes e organizadores também oprimem as guerreiras dentro do movimento e do lado de fora oprimem suas companheiras também.
Isso é inaceitável! Isso precisa acabar imediatamente porque tem resultado em ações diretas na sociedade atual que sustentam dados de um genocídio de massa gigante. Precisa acabar porque ninguém mais deve se sentir inferior pelo seu gênero, sexualidade, condição social ou etnia em lugar nenhum! Ninguém deve se sentir inferior ou ser tratado mal, com arrogância por ninguém. Ninguém deve ser discriminado pelas suas vestes, roupas, vida sexual, comportamento que não afete a vida alheia. Principalmente num movimento que nasceu na luta contra a opressão!
Eu falo por mim, mas penso que Dina Di falava por todas as mulheres quando dizia: “respeito sim, é, desde que ele tenha por mim aí, e se não ter vai ficar pequeno as minas tão vindo, se unindo tão vendo, vão destilar todo veneno”.
Nós vamos e temos que transformar atitudes opressoras dentro do movimento, pois enquanto houver a denúncia, a desconstrução e o empoderamento, haverá a chance de um mundo mais igualitário, justo e melhor para se viver. Exatamente no que o Hip Hop acredita desde seu começo. Que tal finalmente começar?
Issa Paz é Mc, integra o grupo Rimologia é Educadora no Projeto Cine Rima Vida e colunista do Polifonia Periférica escrevendo a coluna Rapensando o RAP
Caramba que baita divulgação heuheuhe com letra e tudo, se tivesse vivo além de não se retratar c ctz faria mais.