As minas de Antônio Pereira

Por Denise Bergamo

Extraído do dicionário de língua portuguesa

“Gíria
1. Linguagem característica de um grupo profissional ou sociocultural. =JARGÃO
2. Linguagem usada por determinado grupo, geralmente incompreensívelpara quem não pertence ao grupo e que serve também como meio derealçar a sua especificidade.
3. Linguagem considerada grosseira ou rude. = CALÃO
4. [Figurado] Manha, esperteza, astúcia.
5. Circunlocução .afetada.”

Minas de Antônio Pereira3Todo o conjunto de residências e comércio que cresce a ponto de ser mais que um bairro e menos que um município é considerado distrito, pois bem, com essa definição sucinta sobre o que vêm a ser um distrito, falarei sobre.

A extensão geográfica de Minas Gerais é, ressaltando a perspectiva empirista que tenho, por isso falha ou fragmentada, absurda.

Há mais terra que cidades, uma prova disso são os distritos que cercam as cidades que por sua vez são cerceadas por infinidades de hectares de terras com os mais diversos fins, entre eles a conhecida pecuária, seguida da plantação de eucaliptos e bananas, como também as lavouras de subsistência e claro a mata nativa que é, pelas minhas observações, predominante, não podemos omitir as jazidas de minério de ferro que são “abundantes”, pelo menos até mais quarenta anos de extração.

E entre essa extensão enorme de mata e plantações que ora surgem como cidades ora surgem como distritos, que ouvi falar por aqui no Distrito de Antônio Pereira.

E o minério de ferro tem muito a ver com essa história.

A terceirização de serviços traz consequências a toda conjuntura de seu lugar e como em um efeito em cadeia todas as federações do Estado com suas autonomias e diversidades sofrem a mesma coisa, é ela, causa única de agravantes vários. Temos aí então as empreiteiras que prestam serviços terceirizados a privatizada Empresa de extração de minério de ferro que atua principalmente em Minas Gerais.

Entre as várias consequências que aqui poderiam ser citadas uma em específico é muito conhecida do local, “fábricas de fazer bebês”. Muito importante ressaltar que essa denominação é dada pelos nativos da cidade de Mariana e até mesmo dos habitantes do distrito de Antônio Pereira que pertence ao município de Ouro Preto, apesar de estar mais próximo da cidade de Mariana. Esta é uma curiosidade a parte.

Minas de Antônio Pereira2Antônio Pereira possui uma das maiores minas de extração de minério de ferro da região e carece de uma mão de obra muito maior que o distrito e a cidade pode oferecer, assim sendo, contrata mão de obra dos lugares mais longínquos, estados diversos. Em regime de contrato temporário vêm de diversas partes do Brasil funcionários no auxilio da exploração.

Fixam-se por aqui por anos ou meses estes funcionários e junto com eles vêm a promessa, para as moças do Distrito, de esperança de uma vida melhor, o eterno sentimento de sexo frágil de conto de fadas que é perpetuado pelo patriarcado capitalista.

Não se demoram muito essas moças a caírem no velho conto do vigário e logo engravidam dos mineradores, com a ressalva que são eles contratados temporariamente pela empresa de extração que terceiriza quase todo o seu trabalho, temos aí então um efeito em cadeia, uma explosão de mães solteiras em Antônio Pereira Pereira, causa essa muito parecida com que Sérgio Buarque de Holanda nos traz em seu clássico livro “Raízes do Brasil” sobre as mulheres das favelas e periferias, muitas vezes negras, que são abandonadas por seus parceiros assim que engravidam, fato que permanece e que perece as mulheres.

O que se percebe também nos interiores mineiros, assim como acredito eu, que em outros interiores brasileiros também, é a visão predominantemente machista e conservadora que parte principalmente das mulheres, que perpetuam a situação das mulheres como um gênero subalterno e com a única e exclusiva função da maternidade, fora a clássica “dona de casa” que por aí anda inexorável nas bocas populares a pergunta minha é uma só: Que minas são essas?

Denise Bergamo da Rosa é habilitada em literatura portuguesa, faz o curso de Serviço Social na Universidade Federal de Ouro Preto e é colaboradora e colunista do Polifonia Periférica

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