Tal como em outros países, a cultura hip hop, viu um dos seus elementos, o rap a desenvolver-se mais em detrimento dos restantes. Depois de o rap ser a muleta para a divulgação dos direitos cívicos do homem negro na América, és que a indústria vê no talento de muitos jovens oportunidade para lucrar. E Angola não está isenta desta praga oportunista da indústria. O rap passa a ter assim duas interpretações distintas:
1ª Rap comercial;
2ª Rap underground ou consciente.
A primeira interpretação, o rap comercial; remete-nos ao desvio, é aquele que não tem nenhuma preocupação com o conteúdo que é transmitido, ou seja, o sujeito não oferece as pessoas o que deviam ouvir, mas o que querem ouvir, por isso não se preocupa com a edificação do homem, é o rap que não conduz o homem a reflexão, que aplaude a futilidade porquanto agarra-se a coisas triviais, em fim, é o rap do nada.
A segunda visão, traz o termo «underground» como expressão simbólica. Nos dias que correm, “underground” não obedece aquela interpretação essencialista, como aquele que está oculto, o que está no subsolo, é mais um termo metafísico que nos remete aquilo que é coerente não obstante ter uma divulgação popular, em alguns casos, ainda conserva a sua pureza, ou melhor, o que não é prostituído. Neste caso, rap underground ou consciente, seria aquele que tem como objecto de análise, o homem, divulgando a sua dignidade, ajudando-o a entender a natureza das coisas, ou ainda, é aquele que conserva a riqueza dos textos. «Circuito Fechado», é um termo com o mesmo valor semântico em relação ao termo anterior (underground), o referido termo, é da autoria do notável rapper MCK. O “rap do Circuito Fechado”, é aquele que não se curva ante a vontade de quem tem poder, é o rap que resiste as tentações.
Em Angola, não podemos olvidar que o rap comercial, goza de alguma popularidade, não porque traz propostas novas capazes de orientar a juventude, apenas porque é apadrinhado pelo partido que governa. O regime, por via da imprensa, e empresários fictícios, injectam bastante dinheiro para colocar os seus artistas em todos lugares. A imprensa tem um poder venenoso, tocam músicas cujos artistas estariam nas barras do tribunal por cantar imoralidade.
O regime pensa em todos detalhes, tem a publicidade como uma arma letal que tem arrastado não poucos jovens com poucas convicções e muitas dúvidas no que acreditam para os seus espectáculos. A força do rap comercial está assim no dinheiro e não na verdade.
Uma gota de veneno num, pode levar-nos a morte’; esta é a característica do rap consciente. Em Angola, os rappers underground antes tinham uma grande preocupação em desenvolver textos contra os rappers comerciais, mas rapidamente perceberam, que o fogo de abordagem não podia ser aqueles que são pensados e usados pelo sistema, mas as acções de quem governa, a orientação do homem, as aspirações do povo, essencialmente da juventude do musseque (periferia), o amor ao próximo e outros valores metafísicos.
Rappers como MCK, Kid Mc, Flagelo Urbano, Kool Klever, Bob Da Rage Sense, Tribo Sul e outros nomes que não deixam os seus créditos em mãos alheias, enchem salas de espectáculos, vendem não menos que os comerciais que têm grandes vídeos, suportados pelas grandes editora mas que apresentam uma música em estado avançado de putrefacção porque nasceu morta.
Mentalmente a juventude Angola cresceu bastante, muito recentemente testemunhamos a “loucura” a quando da venda do terceiro álbum do Kid Mc “Sombra”, a concentração de pessoas começou as 4h da manhã no local de vendas. É isso que enfurece o regime sanguinário, ver a juventude a aderir a eventos organizados por rappers com responsabilidade social, diabolizam, criam situações desagradáveis, contra estes Mc´s de modos que os jovens desacreditem e odeiem estas figuras, mas esta táctica não tem surtido efeitos porque os jovens já despertaram.
Se em Angola a base do rap comercial está no dinheiro, os pilares do rap consciente repousam na verdade. O regime combate este rap, não porque produz poluição sonora, mas porque é tão verdadeiro, ajudando a reduzir o número de votos a favor do MPLA – partido que governa a mais de trinta anos impondo um sistema de governação com o rosto de democracia mas com conteúdo de ditadura. Quem sabe o propósito da vida, quando dá de frente com o rap puro, ganha mais motivos para lutar pelo que acredita.
Khadhya Lubuato é rapper, faz o curso de letras na Universidade Agostinho Neto em Luanda é colaborar e colunista do Polifonia Periférica.