O rapper pernambucano Zum fala sobre seu single “Miragem – Parte 2” que acabou de ser lançado e que a borda o universo do crack na perspectiva e realidade do usuário. Confira a entrevista.
Entrevista – Mirela Santiago
Imprensa – Thaty Oliveira
Foto divulgação: JBenjamim
1) Zum, em que momento surgiu o desejo em escrever “Miragem – parte 2”?
– Já havia lançado o clipe de “Miragem”, meu primeiro single, que trata da vivência difícil nesse momento, inclusive o surto do uso de crack. A música foi o meio que eu encontrei de me expressar sobre o assunto e de tentar protestar e alertar a quem tem o poder de mudar. A ideia surgiu tem um certo tempo, pode haver a continuação “Miragem parte III”.
2) Porque a escolha em abordar o efeito do uso da droga através de versos ocultos?
– Se todos observarem, vão perceber que eu uso de metáforas pra me expressar. Não é nada pensado, é algo que está implícito em mim. O objetivo é chocar o usuário, que sob efeito de drogas pode entender de melhorar forma a linguagem que eu uso. Eu tento mostrar não só para o público em geral, mas mais para o público que usa drogas. Meu alvo é tocar o usuário de maneira positiva e tentar auxilia-lo através do meu trabalho.
3) Analisando a letra de seu novo single, foi possível perceber que utilizas a perspectiva de um usuário para abordar o tema, através de que (ou quem) você retratou essa perspectiva?
– Minha fonte de inspiração foram vivências próprias com o mundo das drogas, inclusive com amigos próximos de infância. Isso foi o que me motivou. O fato de ter carinho e proximidade por pessoas que estavam inseridas nesse meio, me deu o impulso de gritar pro mundo o quanto aquilo é destruidor e quantas famílias se destroem. Até quando não há contato direto com as drogas ou com quem usa, é inevitável não se sentir na obrigação de fazer alguma coisa pra mudar esse contexto.
4) Pra você, qual a importância dos artistas abordarem assuntos polêmicos e tristes de nossa realidade, como as drogas e a violência?
– A música é um meio horizontal, independente de raça ou classe social ela atinge os ouvidos e tem o poder de impactar. O contexto do nosso país, por si só, já contribui pra agravar a situação. Até quem tem a obrigação de nos defender e cuidar para a nossa segurança, certas vezes age de forma truculenta. Por isso escolhi a música como forma de me expressão, porque não há nada mais pacífico e impactante do que música.
5) Você se sente no dever de contribuir na conscientização social, com relação ao uso de drogas, através da sua música?
– Como eu havia dito anteriormente, a música é o meio que eu tenho de falar e atingir as pessoas de forma clara, direta e pacífica. Como músico, com a quantidade de música sem conteúdo que há por aí afora, me sinto mais ainda na obrigação de tocar de forma positiva as pessoas, me sinto com mais vontade de entrar na cabeça nas pessoas e mostrar o sentimento e mudar o panorama musical. Nada contra outras manifestações musicais, tudo deve ser respeitado, mas para mim, a música tem poder de passar sentimentos e ações boas e não apologia a certos tipos de comportamentos inadequados.
6) Qual foi a evolução da cena pernambucana do rap desde o início de sua carreira até os dias atuais?
– No início da minha carreira eu queria passar minha música de forma organizada, mas os incentivos eram poucos. Nada fora da realidade dos artistas. Com o passar do tempo e o aumento da vontade de compor e me firmar, os incentivos e a credibilidade aumentaram. Temos muitas coisas preparadas, vários projetos, temos um disco para lançar, que vem com toda carga. Nunca me deixei levar pelas dificuldades e quero aproveitar para agradecer a todos que me deram apoio desde sempre, todos os envolvidos nesse trabalho. Não vou citar nomes para não tomar muito tempo e não esquecer de ninguém. Tenho grande expectativa para o lançamento do disco, porque é algo que vai mudar minha vida, a vida da minha família e espero que seja bem aceito pelo público.