Sai do Capão Redondo ás 17:30h para chegar as 19:20h na Avenida Paulista, marco econômico do Estado e também, por que não, do país e quiçá América Latina.
Trens e metros lotados, mas eu tinha uma missão: Cobrir “ao meu modo” o lançamento do livro de Ferrez.
Cheguei e já fui reconhecendo alguns famosos rostos, os caras do Negredo, o pessoal do Sarau da Casa, o poeta Lobão, na saída: o Binho e o Luan Luando.
Mas eu não pude deixar de reparar, não haveria como não deixar de reparar o outro público que não era das quebradas que sempre está por lá em seus cafés filosóficos.
Pensei neste fenômeno, que até então eu só via através do futebol. Gente rica misturada com gente pobre. Olha só a força da literatura marginal.
Os catedráticos falam que o termo “Marginal” acaba por segregar a literatura marginal das demais literaturas, até que isso pode ser verdade, mas quem começou segregando quem? Nós da periferia que não fomos.
E apesar deste debate ainda vigente, olhando por outro lado, a manifestação que ela consegue, essa força que ela tem é de se espantar.
Eu vi nesta terça-feira uma utopia. Ricos e pobres em uma livraria, discutindo e debatendo nomes da literatura feita nos guetos. Gente rica falando: Olha o Binho! Gente pobre sem medo e apatia de entrar em um lugar requintado como aquele e ainda mais, sem nenhum guardinha folgado chegando para embaçar.
Não ganhamos apenas mais um título dentro da literatura marginal, nós estamos ganhando um espaço, pode ser cedo ainda para dizer, dentro da sociedade. Acredito que daqui a um tempo não haverá mais sentido o adjetivo “Marginal” para denominar esta literatura feita nos guetos.
Era para ser uma notícia formal, imparcial, mas como eu sou do Capão e não agüento com essas coisas, saiu daqui o meu ponto de vista declarado e carimbado, do que ocorreu nesta terça-feira. Eu não posso esquecer de mencionar que vivemos agora épocas de baixas de nossos jovens por parte da segurança pública.
Na volta para casa, depois de ver tudo aquilo, eu infelizmente, vi uma parada policial e cantando pneus a SAMU. Óbvio que eu não fiquei para ver o que havia de fato acontecido são as duas faces de uma mesma moeda.
Por essa e por outras que preferi relatar ao omitir, não faria sentido apenas dar uma boa notícia, a periferia ainda é e está em constante embate com a indiferença dos órgãos públicos.
Denise Bergamo é habilitada em literatura portuguesa, trabalha na Secretaria de Educação de São Paulo e é colaboradora do Polifonia Periférica