DICAS DE LIVROS – “Periferia pura”.
Por Jéssica Balbino
Primeiro romance de Toni C. envolve grande trabalho de pesquisa sobre a cultura hip-hop e contextualiza partes importantes da história junto a ficção.
Dez anos de debate, escrita e conversa. Toda uma vida em trabalho de pesquisa. Assim pode ser resumido o mais novo trabalho de Toni C.. O recém-lançado livro “O Hip-Hop Está Morto “ vem como o anúncio ousado da história da cultura no país. “Por muitas vezes e em várias situações, me pergunto: o que seria de mim (nós) se não fosse o Hip-Hop? Sinceramente nem me atrevo a responder”, prefacia o rapper Dexter.
O nome, por si, já desperta o interesse e a brincadeira de cores – verde e amarelo – prometem um romance ao melhor estilo tupiniquim.
Agitador cultural, autor e organizador de outras obras, Toni C., ousa ao se apropriar do movimento/cultura hip-hop como personagem principal de um romance, não ao estilo de Luiz Puntel em “O grito do hip-hop” e em longe do gringo “O hip-hop e a filosofia”, o escritor brasileiro traz para as 150 páginas do livro muita filosofia e antropologia, numa análise pessoal e personificada por um hip-hop que neste caso – e somente nesta sacada excepcional do autor – ganha corpo e sentimentos.
A linguagem coloquial e as fotos de personalidades da cultura no Brasil e também fora dele dão estilo ao produto e mais charme à narrativa, feita em terceira pessoa e passeando por personagens fictícios e reais, ou seriam reais e fictícios?
A resposta fica por conta de quem lê, se é que isso é possível. Um incômodo acompanha o leitor da primeira a última página do romance
Conceitual sem ser exagerado, o livro traz ainda um grande trabalho de pesquisa e vivência. Além disso: coragem. É preciso maestria para criar emoções, caras e bocas num personagem que nasceu na periferia e que embala a vida de tanta gente no Brasil e no mundo.
Sugestivo, provocante e esclarecedor. O livro também pode ser descrito desta maneira. Com elementos saudosistas, Toni C., mescla passado e futuro numa consciência coletiva e não poupa quem lê.
“Estamos passando por uma fase crítica do hip-hop e acredito que estamos criando novas formas de reconstrução para manter viva nossa cultura”, é o que responde Toni C., ao ser questionado sobre a ideia de fazer este livro.
A emoção é inevitável em várias páginas. Relembrar grandes momentos ou grandes ícones é como ler e sentir, sempre que quiser, ao alcance das mãos, a própria história. No entanto, se por um lado Toni C. revive toda história da cultura, imprime contextos bastante pessoais na mesma e só cita quem considera fundamental para o movimento, ou seja, embora seja histórico, o livro tem, de certa forma, impressões latentes do autor.
Necessário. Como um dos primeiros lançamentos da literatura marginal/divergente/periférica ou do oprimido, como Toni C. gosta de falar, fica a dica de que em 2012, os dias prometem produções cada vez mais picantes e cada dia com mais qualidade.
Para quem não conhece a história do hip-hop, um excelente começo. Para quem já conhece, uma oportunidade de rever fatos, história e mudar. Por dentro e por fora. Se questionar.
Para todos que querem entender a cultura hip-hop e por conseguinte a literatura brasileira: um livro obrigatório. “Considero fundamental ter consciência, registrar esse momento e adquirir novas táticas”, frisa Toni C.
Jéssica Balbino é blogueira, jornalista e escritora, autora dos livros “Hip-Hop – A Cultura Marginal” (independente, 2006) e “Traficando Conhecimento (Ed. Aeroplano, 2010).
Confira a entrevista que Toni C concedeu ao “Seu Jornal” da TVT