“ESCRITORES DA LIBERDADE – Por Sérgio Vaz

 

Depois de muito tempo longe de tudo e de todos, por conta do livro da Cooperifa que eu estava escrevendo — acabei de escrever, mas depois eu falo disso —, a primeira coisa que cai em minhas mãos é o filme “Escritores da liberdade” que eu ganhei ontem de uma professora na escola onde eu fui dar oficina de poesia. Fiquei feliz por dois motivos, primeiro porque adoro cinema, mas adorar de adorar mesmo, e não é papo furado ou idéia para agradar em mesa de barzinho, sou do tipo que coleciona, e se liga na história e tal, e também gosto de um monte de filmes e de um monte de lugares. Sempre achei que na periferia deveria ter um cineclube para a gente assistir uns filmes que não passam no cinema ou na TV, tipo Machuca, Sacco e Vanzetti, Conta comigo, Jules and Jim, O Cangaceiro, Lúcio Flávio, El Cid, o Carteiro e o poeta, Um dia de Cão, Touro Indomável, e mais uma infinidade de clássicos cinematográficos tão importantes quanto os clássicos da literatura. E segundo porque todo mundo que já tinha assistido estava me recomendando, porque achava que de alguma forma eu iria me identificar com a história. Acertaram. Eu estava resistindo, porque acho que esse tipo de filme, depois de “Ao mestre com carinho” com Sidney Pottier, virou meio clichê. É. Essa história do professor bonzinho entrando na vida de adolescentes problemáticos, de comunidades problemáticas… Mas aceitei assistir porque é sobre uma história real na cidade de Los Angeles, no turbulento início dos anos 90, pós Rodney King, lembram? E também porque há dois anos estou fazendo os saraus e oficinas nas escolas da quebrada e que poderia sugar alguma coisa para levar para os alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos). Ah, também porque curto a Hilary Swank (menina de ouro), ela é a dentuça mais charmosa que eu conheço. Quando o filme terminou, eu pensei: “mas não é que o filme é legal mesmo?” Que história bacana de ser assistida, ainda mais sobre o ponto de vista da literatura sobre os jovens, e vice-versa, e do ponto de vista do preconceito que ainda assola o nosso mundo. Lembrei dos Professores Rodrigo Ciríaco, do Maca, do Samuca, e de um monte de mestres que estão aí na periferia tentando educar a molecada que o estado não quer que seja educada. As escolas são analfabetas e a culpa não é do professor, eu sou testemunha ocular desse crime. Para eu que só vou uma vez por semana nas escolas e não dou nota para nada do que eles fazem, é muito fácil trocar idéia e conseguir a simpatia gratuita da juventude, mas vai ver isso todo dia… Hoje tem marmanjo dando na cara de professora. Que deselegância. Quer saber? O Professor é tipo meu herói! Aí, você pode falar: “é, mas tem uns…”, mas tem “uns” em qualquer lugar, em qualquer tipo de profissão. Aliás, transmitir conhecimento não devia ser profissão, devia ser encantamento, e esses feiticeiros poderia ter todo o ouro que precisassem, quando o diamante acabasse. Não abro mão, Professor devia ter capa e cinto de utilidade. Eu acho que Professor voa, tem superpoderes e visão de raios-X. Eu quando estou em perigo chamo um Professor, não quero nem saber se ele é da rua ou se é da escola, consulto sempre um mestre. Bom, tirando meus efeitos especiais, e voltando ao cinema, o filme é bem piegas, mas confesso que funcionou comigo. Na calada da madruga, depois de um dia intenso de correria, uma emoçãozinha até que não foi mal. Se você não tiver lição pra fazer em casa, na hora do recreio é bem melhor, assista e depois comenta comigo. Toda aula devia começar assim: LUZ, CÂMERA, AÇÃO. SONHANDO! *do livro “Literatura, pão e poesia’ Global Editora”.

Sérgio Vaz – é poeta da periferia, criador da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa), autor dePensamentos Vadios (1999), A Margem do Vento (1995) e Subindo a ladeira mora a noite (1992).

Assista ao Trailer do filme “Escritores da Liberdade” Legendado

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