A crítica literária hoje, discute o que é contemporâneo, discute a imanência da inércia da escrita “A literatura do não”. Parece não ver esta fenomenologia literária que lhes passa por entre olhos, atrasados como sempre, a América Latina (Brasil) acordará depois que a tartaruga cruzar a linha de chegada.
A dita literatura marginal foi pela crítica discutida, mas na década de setenta, quando uma parte da elite, não disposta com o novo cânone ou a provável nova forma de canonização literária, marginalizou sua escrita, para dela fazer protesto em prol de uma literatura, menos aristocrática.
Nesta literatura, o que era de fato marginal era sua distribuição e sua fuga do padrão, mas nada relativo a periferia, literalmente falando. Carolina Maria de Jesus e Paulo Lins, até então não eram (como parecem ainda não ser) referência para os catedráticos.
Assim parece ser justificável o fato de autores como Ferrez, Sergio Vaz, Ademiro Alves, Binho, Allan da Rosa, Luan Luando, entre tantos outros. Não estarem entre as rodas de debates da crítica literária. O que se vê hoje ao falar em literatura marginal são as questões antropológicas e sociológicas deste fenômeno.
Curiosamente, me pergunto: Será que estas escritas vinda das entranhas da margem são apenas o resultado de uma “democratização” do setor editorial? Será que não é nada além disto? Será que para a crítica literária ainda está em voga as fontes e influências; o cacoete de um povo colonizado que está sempre querendo ver além-mar?
Para quem está diretamente envolvido neste fenômeno contempla todo o gozo deste momento; anestesiados não tomaram o distanciamento necessário para julgarem o que “não” falam sobre eles.
O potencial literário marginal, não deixa a desejar a qualquer corrente literária. Assim não pode apenas se render a afagos e incentivos caridosos, mas estar sempre alerta para o tipo de tratamento que recebe, ou que não recebe. O fato é que não se fala em literatura marginal, como se fala em modernismo literário, o barroco, o surrealismo, o futurismo, o impressionismo, o cubismo, o concretismo…
Possa ser antecipada aqui a crítica que faço, mas se tratando de Brasil e o eterno sentimento de “pertencer” que alguns de nossos críticos são/estão embalsamados, a carapuça aqui se faz uso certo.
Fica a estima de que se fale concretamente de literatura marginal, que se debata efetivamente literatura marginal, que se estude (os aspirantes a críticos literários) a literatura marginal como se estudou todas as outras correntes literárias que hoje perpetuam nos livros didáticos escolares e que já estão sendo postos em xeque pela própria crítica.
Assim como fica a estima que os escritores e apaixonados pela poesia e prosa marginal, criem olhos severamente críticos para o que não estão fazendo. Se aqui iniciei falando do objeto de estudo dos críticos: A literatura do não. Fecho aqui falando da crítica do não. Aquela que não critica, que não lê, que não vê, que não existe.
Denise Bergamo é habilitada em literatura portuguesa, trabalha na Secretaria de Educação de São Paulo e é colaboradora do Polifonia Periférica